sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Que horas ela volta?

Data de lançamento: 27 de agosto de 2015
Direção: Anna Muylaert
Gênero: Drama
Nacionalidade: Brasil

O filme trata da história de Val (Regina Casé) que sai do Nordeste para trabalhar como doméstica em São Paulo numa casa de uma família de classe alta. Ela sempre foi  complacente com a sua situação de inferioridade na casa até que sua filha, Jessica (Camila Márdila) chega de Pernambuco, cheia de ideias e críticas em relação à circunstância da mãe. Com uma atitude considerada “abusada”, Jéssica provoca mudanças no contexto da casa e na vida de Val.
A obra enfoca bastante a relação ausente das mães - sempre ocupadas com o trabalho - e o seus filhos. No entanto, o que achei mais interessante foi o enfoque na relação patrão-empregado, brilhantemente retratada nos pequenos detalhes da convivência entre a família e Val. Acredito que o filme é bem crítico nesse aspecto, uma vez que mostra como os patrões creem incluir a doméstica como “alguém da família” e sequer preocupam-se com o conforto e bem estar do aposento da empregada. Essa não é uma realidade isolada; hoje, é considerado “falta de noção” uma doméstica se sentar à mesa junto com os patrões, entrar na piscina da casa e, principalmente, dormir em um quarto que não seja o “de empregada”. Tanto para a classe alta quanto para a classe baixa é julgado comum esse distanciamento hierárquico, representado no filme pela passividade de Val e condescendência dos donos da casa. Basta uma análise superficial do assunto para perceber que essa condição não é justa levando em conta a igualdade entre as pessoas; apenas por você ser mais pobre e viver na periferia não é digno de sentar à mesa para refeições, de beber em copo de vidro, comer um sorvete mais caro, nadar na piscina, entrar em uma faculdade conceituada? Não tem direito a frequentar exposições de arquitetura/design modernistas em um museu? Se a execução dessas ideias te incomoda, você precisa pensar um pouco mais, talvez um bocado de alteridade ajude.
Penso que devemos desconstruir essa artificialidade das relações e sinceramente incorporar os empregados no nosso convívio. Acredito que como arquiteta posso fazer parte dessa mudança, começando por um planejamento mais humano das residências, com todos os quartos semelhantes e integrados. Afinal, não concordo com os “quartinhos de empregada” junto à área de serviço, depois da cozinha e longe das grandes suítes.

Finalmente, adoraria que os interessados assistissem a esse filme o quanto antes, já que de forma cômica e profundamente comovente provoca altos níveis de reflexão necessários à toda sociedade atual.



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